quinta-feira, 16 de outubro de 2025

Mulher fica paraplégica após tratamento para endometriose

 

Um mês após o casamento, em busca de cura para dores causadas pela endometriose, a técnica de enfermagem Bruna Conceição dos Santos, 25 anos, se submeteu a um tratamento com fenol em uma clínica particular do Distrito Federal, em maio de 2024. Após o procedimento, ao invés de alívio, perdeu os movimentos das pernas e os sonhos.

“Perdi o sonho de ter o sonho de ter um progresso maior na minha vida profissional. O sonho de ser ainda mais independente do que eu era. O sonho talvez de poder ter filhos. Esse sonho ficou para trás. Não se sabe se eu vou poder ou não ser mãe dos meus próprios filhos”, lamentou Bruna.

O sonho da maternidade é praticamente impossível. “Por contas das duas situações, e a real situação em que me encontro, na perda do movimento das pernas. E também pela endometriose. Na última consulta, o médico perguntou se eu tinha o desejo de ter filhos. Eu falei que sim. E ele se manteve calado. No momento, não é possível”, contou.

Segundo Bruna, a perda de movimento nas pernas é irreversível. A técnica de enfermagem passou a fazer fisioterapia para evitar a atrofia dos membros.

A Defensoria Pública do DF (DPDF) entrou com uma ação na Justiça contra a clínica particular L’Essence e o médico Lucas Franca, responsáveis pelo procedimento. Segundo o órgão, houve suposta imperícia médica. Ambos negam falha no atendimento (leia mais abaixo). O caso é investigado pelo Conselho Regional de Medicina (CRM-DF).

Antes de perder os movimentos dos membros inferiores, Bruna gostava cantava. Depois do procedimento se isolou, mas, agora, decidiu voltar para música na igreja. Nas melodias, encontra forças para enfrentar os desafios.

“Me sinto como se estivesse em um buraco. Minha vida mudou por completo. Às vezes penso estar em um pesadelo, em que algum momento vou acordar e tudo vai passar. São muitas terapias com a psicóloga. É muito difícil aceitar, me ver em uma cadeira de rodas e ter uma vida totalmente dependente. Não posso ir ao banheiro”, comentou.

Antes, mesmo com as dores provocadas pela endometriose, Bruna vivia com intensidade. Tinha prazer em arrumar a casa. Amava ir ao trabalho. E nos momentos de descontração, praticava corrida, andava de patinete e pedalava. Para a técnica de enfermagem, ficar na cama ou na cadeira de rodas é extremamente depressivo.

“Eu tinha acabado de voltar de uma lua de mel maravilhosa. Estava começando uma vida. O baque foi enorme”, afirmou. O marido de Bruna, Maxwell Gonçalves Dourado, 30, passou a trabalhar em casa para cuidar da esposa. Com amor e dedicação, provê todas as necessidades da companheira, do banho à alimentação.

Neuroestimulador

Bruna começou a sentir dores em 2022 no abdômen e na região pélvica, especialmente ao sentar. Buscou tratamento e um médico recomendou o implante de um neuroestimulador sacral. Mas os custos com profissional para o procedimento não estavam cobertos pelo plano de saúde da técnica de enfermagem.

Bruna procurou uma clínica que fizesse o implante pelo plano e, assim, chegou à clínica L’Essence. No local, o médico disse que ela teria que passar por procedimentos que seriam requisitos para o implante.

A paciente passou por 10 sessões de bloqueio venoso simpático para aliviar a dor, mas não houve melhora. O médico sugeriu um bloqueio do nervo hipogástrico com anestésico, no centro cirúrgico. Sem sucesso, o profissional, então, teria indicado um bloqueio do nervo com fenol.

“O fenol iria destruir o nervo que irradiava a dor para o meu cérebro. Ia queimar esse nervo. Quando saí do procedimento, estava na cadeira de rodas. Perdi as forças motoras das minhas pernas”, relatou.

Sem conseguir ficar em pé, Bruna buscou explicações junto ao médico e à clínica. “Fizemos exames. E ele disse que eu tinha hérnia de disco. Fiz ressonância, mas não deu hérnia de disco. A partir daí não tive mais assistência do doutor”, contou. De acordo com Bruna, exames comprovaram a destruição dos nervos, por isso, o quadro seria irreversível. A família buscou o CRM-DF, a DPDF e um novo tratamento.

“Não quero que outras pessoas passem pelo o que passei. Quero que avaliem bem o médico nas consultas e para fazer procedimentos. Que elas peçam os riscos da cirurgia. Não vão apenas pela confiança”, pontuou.

Risco do fenol

Do ponto de vista do defensor público e chefe do Núcleo de Assistência Jurídica de Defesa do Consumidor (Nudecon), Antônio Carlos Cintra, o caso é um exemplo dos riscos do fenol. Segundo o defensor, chama a atenção a opção do médico acusado em usar a substância ou invés de realizar o implante previamente recomendado.

“Informação passada para Bruna foi insuficiente, mas em especial no que toca aos riscos do fenol. É uma clara negligência em não informar a paciente o risco. O estudos mostram que 3% a 5% dos casos acaba tendo lesão. Neste caso, a dor estava próxima a um nervo muito sensível e esse risco precisava ter sido informado”, alertou.

Para Cintra, também houve suposta negligência quando o profissional optou por um tratamento tão arriscado, quando havia opção menos arriscada. “E finalmente há uma imperícia no tratamento. Deixou uma paciente saudável sem a capacidade de deambular”, arrematou.

Um mês após a fenolização de Bruna, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) editou a resolução nº 2.384/24, proibindo o uso de fenol em procedimentos, pela elevada periculosidade. A ação da DPDF pede indenização por dano moral, estético, pensão vitalícia, pagamento de plano de saúde e custeio do tratamento de saúde.

Nossos pensamentos estão com Bruna e sua família neste momento tão difícil.


Nota de [Endometriose Mulher]

A história de Bruna Conceição, exposta pelo Metrópoles, traz à tona a realidade cruel da endometriose, uma condição que impõe dores análogas às de parto. Testemunhar uma jornada de busca por alívio culminar em uma tragédia como a paraplegia, além da manutenção dessas dores cruciais, é algo que nos causa profunda consternação e um nó no estômago.

'Endometriose e Mulher: É Isso?' Não. Simplesmente, não.

Enquanto porta-vozes e dirigentes há 20 anos na luta contra esta doença, afirmamos: a dignidade da vida e o bem-estar do paciente são inegociáveis. Não há dinheiro ou busca por lucro que justifique qualquer falha que resulte em tamanha perda. Este caso reforça nossa luta e o debate sobre a **responsabilidade e a ética inabalável** que devem nortear todo e qualquer procedimento na área da saúde.

Esperamos que o andamento jurídico deste caso seja conduzido com total sabedoria e, acima de tudo, com uma profunda **consideração pela preciosa e inestimável vida de Bruna.** Que a verdade prevaleça e que o sistema garanta o amparo necessário a ela. Bruna, sua vida importa. Contamos com sua força.


 




Outro lado

Metrópoles entrou em contato com a clínica e com o médico envolvidos na denúncia. Ambos negaram qualquer falha no tratamento. Segundo a defesa de Lucas Franca, o tratamento foi indicado para um quadro de dor pélvica crônica refratária, resistente a múltiplas abordagens medicamentosas e fisioterápicas.

De acordo com o médico, a neurólise química do plexo hipogástrico superior com fenol é um procedimento previsto em protocolos internacionais de dor intervencionista, descrito em publicações médicas amplamente reconhecidas e adotado em centros especializados no Brasil e no exterior.

Em nota enviada a reportagem, garantiu ter informado os riscos do tratamento à Bruna. “A paciente foi informada sobre riscos, benefícios e alternativas terapêuticas, tendo sido colhido Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, validado pela equipe de enfermagem e arquivado junto ao prontuário hospitalar”, declarou.

Clínica

A L’Essence argumentou que os procedimentos ocorreram em dois hospitais com infraestrutura própria, equipe assistencial e responsabilidade direta pelos atos médicos executados em suas dependências. Alegou também que realiza atendimentos médicos especializados e procedimentos minimamente invasivos de baixa complexidade.

“Nos casos de neurólises e procedimentos de maior complexidade, é rotina da equipe encaminhar e realizar tais intervenções exclusivamente em ambiente hospitalar, justamente para assegurar os mais altos padrões de segurança ao paciente. A clínica não tem qualquer envolvimento direto com o evento clínico em questão, limitando-se ao acompanhamento ambulatorial da paciente antes do encaminhamento hospitalar”, declarou.

  • Fonte da Notícia: Metrópoles / Metrópoles DF (publicado em maio de 2024).
  • Créditos das Imagens: Metrópoles / Foto de Arquivo Pessoal (para as imagens que representam a pessoa na cadeira de rodas e seu ambiente)

quinta-feira, 9 de outubro de 2025

A laparoscopia beneficia mulheres com endometriose em todos os estágios

 

Estudo confirma que a laparoscopia é um tratamento eficaz para a dor em todos os subtipos de endometriose




Do Editor-Chefe – EndoNews

Este estudo reforça o valor da excisão laparoscópica como pilar fundamental no tratamento da dor associada à endometriose. Ao demonstrar melhorias significativas e sustentadas tanto na intensidade da dor quanto na qualidade de vida, independentemente do estágio da doença, os autores questionam a suposição de que a doença avançada prediz desfechos piores. É importante ressaltar que os ganhos na qualidade de vida foram além do alívio dos sintomas, abrangendo bem-estar emocional, funcionamento social e autopercepção, ressaltando os benefícios holísticos do tratamento cirúrgico.

Embora o tamanho da amostra tenha sido modesto e o acompanhamento limitado a 12 meses, os resultados se alinham com um crescente conjunto de evidências que apoiam a cirurgia laparoscópica como uma opção confiável para mulheres com dor grave e refratária. Os resultados destacam a necessidade de estudos multicêntricos maiores, com acompanhamento mais longo, para refinar a seleção de pacientes, avaliar a recorrência e integrar melhor os resultados cirúrgicos aos planos de tratamento de longo prazo. Até lá, este estudo fornece evidências convincentes de que o tratamento laparoscópico pode proporcionar melhorias significativas para mulheres em todo o espectro de gravidade da endometriose.

Resumo leigo

A endometriose afeta significativamente a vida diária e o bem-estar emocional. Muitas mulheres sentem dor pélvica intensa, fadiga e redução da qualidade de vida.

A cirurgia laparoscópica, uma operação minimamente invasiva que remove lesões de endometriose, geralmente é oferecida quando os medicamentos não ajudam mais.

Neste estudo, publicado no International Journal of Reproductive BioMedicine , o Dr. Sadeki da Universidade de Ciências Médicas de Zabol e da Universidade de Ciências Médicas do Irã acompanhou 50 mulheres com endometriose que foram submetidas à cirurgia laparoscópica.

Metade das mulheres apresentava doença grave (estágio IV) e a outra metade, estágios mais leves (I-III). Os pesquisadores mediram a intensidade da dor e a qualidade de vida antes da cirurgia e novamente 3, 6 e 12 meses após a cirurgia.

Os resultados mostraram que a dor melhorou drasticamente em todas as mulheres após a cirurgia, independentemente da gravidade da doença.

As pontuações de qualidade de vida também melhoraram, com as mulheres relatando melhor saúde emocional, mais apoio social e uma maior sensação de controle sobre sua condição.

Além disso, as melhorias foram mantidas ao longo do período de acompanhamento de 12 meses, e mulheres com doença avançada se beneficiaram tanto quanto aquelas com formas mais leves.

Isso significa que a cirurgia laparoscópica pode proporcionar alívio significativo para mulheres com endometriose em todos os estágios da doença.

Embora o estudo tenha sido relativamente pequeno e tenha acompanhado os pacientes por apenas um ano, ele reforça a evidência de que a cirurgia não apenas reduz a dor, mas também ajuda as mulheres a recuperar uma melhor qualidade de vida.

Pontos-chave

Destaques: 

  • A cirurgia laparoscópica reduziu significativamente a intensidade da dor e melhorou a qualidade de vida (QV), incluindo melhor bem-estar emocional, melhor apoio social e uma maior sensação de controle em mulheres com endometriose.
  • Benefícios foram observados em todos os subtipos e estágios, incluindo a doença em estágio IV.

Importância:

  • A excisão laparoscópica da endometriose proporciona alívio consistente dos sintomas e melhorias na qualidade de vida, independentemente da gravidade da doença.
  • As descobertas apoiam a laparoscopia como uma opção de tratamento eficaz para mulheres com dor debilitante e comprometimento do funcionamento diário devido à endometriose.

O que é feito aqui:

  • Um estudo de acompanhamento de 50 mulheres com endometriose confirmada cirurgicamente tratadas no Hospital Amir Al Momenin, Zabol, Irã.
  • Os participantes apresentavam dor intensa, baixa qualidade de vida ou infertilidade que não respondia à TARV.
  • As mulheres foram classificadas em subgrupos de estágio IV e estágio I–III usando critérios ASRM.
  • A intensidade da dor foi medida usando o escore visual analógico (VAS), e a qualidade de vida foi avaliada usando o questionário Endometriosis Health Profile-30 (EHP-30).
  • Os resultados foram monitorados no início do estudo, 3, 6 e 12 meses após a cirurgia.

Principais resultados:

  • Os escores de dor diminuíram significativamente em ambos os grupos:
    • Estágio IV: de 8,5 a 2,3 em 12 meses ( p < 0,0001).
    • Estágios I–III: de 8,9 a 2,7 em 12 meses ( p < 0,0001).
  • As pontuações de qualidade de vida também melhoraram significativamente em ambos os grupos:
    • Estágio IV: de 59,4 a 25,8 ( p < 0,0001).
    • Estágios I–III: de 54,6 a 30,3 ( p < 0,0001).
  • Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre pacientes em estágio IV e em estágio inferior na magnitude da melhora.

Limitações:

  • O pequeno tamanho da amostra (n=50) e o desenho de centro único que limitam a generalização; curto período de acompanhamento (12 meses); falta de análise de subgrupos para tipos específicos de lesões (profundas, endometrioma, superficiais) ou aderências são as principais limitações. 

  


Fonte de pesquisa: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/40371363/


ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

A Endometriose Mulher destaca as pesquisas científicas e a literatura médica mais recentes, revisadas por pares, com foco na endometriose. Somos imparciais em nossos resumos de pesquisas sobre endometriose publicadas recentemente. Endometriose Mulher não fornece aconselhamento médico nem opiniões sobre a melhor forma de tratamento. Ressaltamos a importância de não usar a Endometriose Mulher como substituto da consulta a um médico experiente.

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