Confira uma entrevista com Renata Carlini, educadora física e portadora de endometriose
De acordo com o Ministério da Saúde, a endometriose é "uma doença crônica provocada pela migração do tecido que reveste a cavidade uterina, o endométrio, para outras partes do corpo, principalmente para o abdome, além de ovário, ligamentos uterinos, bexiga e intestino.” Uma em cada dez mulheres brasileiras têm a doença.
Após o diagnóstico, algumas opções de tratamento são medicamentos que suspendem a menstruação ou que reduzem as dores, além de cirurgias. Outra recomendação dos especialistas é manter uma alimentação saudável e praticar exercícios, o que pode ajudar no controle da dor. Mas até que ponto a atividade física influencia no tratamento da endometriose?
Para discutir o assunto e celebrar o Dia do Educador Físico, comemorado hoje (01/09), conversamos com a educadora física e portadora de endometriose Renata Carlini (37). Confira a entrevista:
AMO Acalentar: Renata, qual a sua história com a endometriose?
Renata Carlini: hoje está controlada, no nível 1, então eu não sofro nada. Mas eu já cheguei no nível 4, segundo o meu médico. Meu ciclo menstrual sempre foi normal, zero cólica. Quando eu estava com 25 ou 26 anos, eu comecei a ter muita cólica. E não era normal: a cada ciclo menstrual aumentava. E aí eu comecei a investigar: comecei a marcar ginecologistas, fazer exames e nunca dava nada. Demorou mais de um ano para eu descobrir o que eu realmente tinha e neste tempo a coisa foi se agravando.
Eu cheguei a fazer uma cirurgia com um ginecologista que me examinou, por videolaparoscopia, e não fez muita coisa, porque continuaram as dores. Aí eu fiz uma cirurgia com outro médico que deu uma melhorada, mas as dores continuavam. Então eu comecei a tomar pílula direto para que eu não menstruasse. Melhorou, mas depois de um certo tempo…
Então, eu descobri um médico, por uma amiga, especialista em endometriose. Ele começou a fazer vários exames e diagnosticou, pela ressonância magnética, que eu já estava em um nível bem avançado da endometriose. Ele falou: “Renata, pelo que a gente vê aqui no exame, a coisa tá bem feia e vamos precisar operar, fazer uma boa raspagem”. Resumo da obra: em 2015, eu fiz uma grande cirurgia, uma boa “limpeza”. Foram retirados 12 cm do meu intestino, porque estava completamente comprometido. Hoje eu faço uso de um remédio específico para endometriose, que não é uma pílula anticoncepcional. Eu não menstruo e, desde então, eu estou ótima. Eu não sinto dores, não sinto absolutamente nada. Minha vida é outra.
AA: Qual a relação da endometriose com o exercício físico?
RC: Tem muitas coisas benéficas. Durante toda essa caminhada, desde antes de eu descobrir o que tinha, eu identifiquei que o exercício físico é super importante e alimentação também influencia. O carboidrato, por exemplo, não é tão legal porque ele influencia bastante na questão inflamatória da endometriose, o açúcar também. E, em alguns casos, a lactose. Hoje, que eu tenho uma vida bem regrada em relação a exercício, eu vejo o quanto eu melhorei. Então, atividade física e alimentação ajudam muito no tratamento da endometriose.
AA: Renata, nesse período em que você estava com endometriose profunda, você conseguia fazer exercício físico?
RC: Não. Na verdade eu fazia normal, e aí quando começava o período menstrual, era zero. Eu lembro, algumas vezes, que eu pegava o carro para ir dar aula numa academia e aí durante o trânsito eu começava a sentir a cólica e às vezes eu tinha que encostar o carro, me comprimir e esperar passar aquela crise. Aí eu respirava fundo e dava a aula. Agora, treino, eu particularmente não conseguia.
AA: O ideal é a pessoa fazer o exercício com uma certa regularidade, porque na época de muita dor não tem como, certo?
RC: Sim. Mas hoje, como está mais controlada, é outro quadro. Hoje, a atividade me ajuda. Tanto que o meu médico também falou: “Renata, mantenha sempre a atividade física porque isso vai ajudar” com relação aos hormônios. Te ajuda muito a controlar a endometriose, realmente. Minha vida é outra.
AA: Você acha, que, de certa forma, o exercício diminui a dor?
RC: Sim, eu acho. Porque quando você pratica atividade física, você gera uma série de hormônios. E, consequentemente, você vai querer se alimentar bem, é um casamento. Então isso ajuda muito, é muito benéfico.
AA: Renata, você tem alguma dica para quem esse quadro de endometriose, seja a profunda ou não, para conseguir se motivar a fazer atividade física?
RC: Minha dica, além de procurar um especialista, investigar, entender o quadro dela, em que nível que está, é disposição. É respirar fundo e falar: “eu vou treinar, eu vou fazer alguma coisa”. A atividade física tem que ser prazerosa. Porque aí, você faz com disposição, com animação. Isso transforma todo seu corpo, mente, espírito. Muda completamente. Então, minha dica é: faça mesmo, procure algo que te dê prazer. Caminhada, pilates, hidroginástica, musculação, aulas de ginástica., até luta. Porque vai gerar benefício e vai ajudar no quadro da endometriose, é certeza.
AA: Tem mais alguma informação que você acha importante falar sobre o assunto?
RC: Quando eu estava na época da endometriose bem “punk”, que eu sentia as cólicas, mexe muito com o emocional. Você fica mal, é uma cólica, te deixa para baixo, autoestima lá embaixo. Porque é todo mês! Por isso que atividade física é importante. Sem ter a endometriose, a atividade física já promove uma autoestima: a pessoa se sente melhor, dorme melhor, come melhor, enfim. Só tem a contribuir.
Artigo escrito por Giovanna Tedeschi, Voluntária de comunicação da Amo Acalentar e jornalista.